Não queria desistir de Amor. Mas às vezes (talvez mais do que às vezes) Amor estava tão aquém de suas expectativas... Desejava Amor. Mas. Desejava por quê? Por que era o que todos esperavam de si? Dela? Por outro lado... Não. Amor fazia-a feliz. Mas apenas (a penas) assim seria feliz? Quantas formas existem de ser feliz sem Amor? Existem possibilidades ao menos? Amor é imprescindível? Poderia viver sem Amor? Decerto queria ser feliz. Por isso insistiam em Amor? E, afinal, ser feliz é pra quê? De que serve? Pra quem? Com que finalidade, meu Deus? Para Nada. Era-se feliz ou não. Às vezes depende de você, às vezes não. Tinha medo sobretudo do segundo "às vezes".
É certo: Amor não estava sob seu controle. Ela é quem estava sob controle de Amor. Por isso, às vezes odiava-O. Amor omnia uincit.
Amor era força da Natureza. Indestrutível. Arrebatadora. Nesse sentido, competia com Ele. Ela é quem queria ser força da Natureza, indestrutível. Arrebatadora. Impressionava-se. Não... embasbacava-se quando constatava que um minuto para uma mulher apaixonada - sob império de Amor - era, na verdade, uma hora. Odiava Amor. Gostaria de se desembaraçar dele. Muito. Sempre. Mas tinha medo, pois a pergunta permanecia irrespondida: podia viver sem Amor? Ela que era feita para Ele? De que serve um pássaro no chão? Poderia viver infeliz? Era orgulhosa demais para Amor. Queria ser forte como a rocha seca sob o Sol cruel nos morros imponentes. Amor tornava-a mole e úmida como o insignificante musgo na rocha, quando chove. Sentia-se fraca. Amor às vezes era tão devagar. Ela queria a velocidade arrebatadora das ondas do Adriático. E sua força. Queria ser o próprio Mar. Queia ser o próprio Amor. Mas era apenas a embarcação arrebatada pela vagas violentas... Amor não a compreendia. E jamais compreenderia Amor. E então? Por que insistir? Amor omnia uincit. Temia-O. Curvamo-nos ao que tememos: et nos cedamos Amori. Credimus? an qui amant ipsi somnia fingunt?
Amor só a procurava quando dava-lhe as costas. Mas era preciso força. Sentia-se, no entanto, fraca. Mais ainda quando ousava lutar contra Amor. Ele engolia-a. Sentia. Sentia-se sendo engolida... mais e mais... Quem era Ela? Não sabia mais... Amor incorporava tudo. As horas, os dias... Quem era? Que importa? Existia apenas para Amor. Via-se em Amor. Sem ele, era apenas uma forma sem forma. Uma caixa de leite sem leite. Um aviso sem destinatário. À deriva, uma embarcação.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Na correria do dia, eu mal me lembro de mim mesma, visto que me crio para os outros e não para mim... Mas à noite, antes de dormir, eu me reencontro nas várias performances desse esquizofrênico eu que criei durante o dia todo, e os reconcilio, e os apazíguo. Volto a ser esse eu que não sei quem é, esse que não foi lapidado e, por isso, rudimentar... mas é puro e genuíno. Aí me re-conheço.
Queria ser tudo...
Ah! Infeliz! Queria ser tudo e acabou sendo nem uma coisa nem outra. E por isso era só e ignorante.
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
O Tempo e o Modo de Conjulgar a vida
Era
tarde. Ia dormir. Já estava deitada quando parou pra pensar na vida e chorou.
Felicidade devia ser viver irrefletidamente. Enquanto chorava, tentou registrar
à margem da mente: Não viver nos provavelmentes. Basicamente, evitar os Subjuntivos
todos. Os “talvez”, os “se” e os “quandos”. Por exemplo, “quando esta árvore
dará frutos? Quando ela estiver na estação
certa? E se eu me livrasse das folhas secas? Talvez ela morra antes que as
flores surjam...” (e outras coisas do gênero). Era preciso evitar também as
irremediáveis mazelas do Futuro do Indicativo e os pensamentos que ele lhe
trazia: velhice e esquecimento, morte e perda.
A felicidade parecia repousar nas leves asas do Agora. Preocupar-se-ia,
portanto, apenas com o Presente do Indicativo, que requer convicção.
(The view of the sea, Renoir).
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Sobre o caçador II
Homens: demonstram vívida iniciativa para travar conhecimento, mas negligência para aprofundá-lo e rapidez para ignorá-lo. Seus pensamentos são tão inconstantes quanto tão fracas são as suas intenções.
Sobre o caçador I
O homem é pior que a mais facínora e perniciosa cobra, pois a cobra, enquanto predadora mortal, tem sua fome saciada tão logo devora a sua vítima, além de repousar satisfeita por longas horas, tornando-se, portanto, inofensiva. O homem, por outro lado, é insaciável por natureza. Nunca haverá na terra diversidade e quantidade suficientes para a sua doença de fome eterna.
Todo homem é caçador por natureza. No entanto, há alguns aspectos em que se diferenciam no que respeita o seu caráter predatório: Há aqueles que procuram presas fáceis e com ferocidade lhes arrebatam a vida para descartá-las frivolamente. Há, por outro lado, os que não satisfeitos em dar cabo de suas energias vitais, esfolham-lhes o corpo, jactando-se da pele como troféu, reviram-lhes os órgãos vitais, alimentando-se sem desperdícios, isto é, até que não sobre nada. Os mais interessantes, contudo, são os caçadores que se apiedam de sua presa, não as abatendo tão imediatamente. Levam, pois, a caça em vida e, ao invés de se alimentarem delas, alimentam-nas. E, ironicamente, à medida que a presa é alimentada, torna-se, concomitantemente, cada vez mais apetitosa para o abate iminente.
Assinar:
Postagens (Atom)